quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Honduras: Um Novo Protagonismo em cena




From: Max Altman


Honduras: um novo protagonista em cena




No dia 30 de junho, 48 horas depois do golpe de Estado que derrocou o presidente de Honduras, Manuel Zelaya, a Organização dos Estados Americanos, em votação unânime, condenou o golpe e exigiu o retorno “imediato e incondicional” de Zelaya ao poder. Outras manifestações de organismos multinacionais se seguiram na condenação ao golpe e na exigência da volta de Zelaya. Lembram-se? Passados 100 dias, o golpista Micheletti, apoiado pelo exército, pela hierarquia da igreja, pela oligarquia, pela mídia, continua no palácio presidencial mandando. E Zelaya continua na embaixada brasileira esperando e negociando.

A situação é de quase estagnação. Rompê-la exige negociações porquanto nenhum dos lados consegue se impor. Missões diplomáticas e intermediações tentaram em vão quebrar o impasse. Vai-e-vem de governos e chancelarias poderosos mantiveram colocaram a solução em banho-maria. Micheletti, mesclando a política do morde e assopra e, valendo-se de medidas policiais e apoiado nas baionetas, quer empurrar com a barriga o problema até as eleições presidenciais previstas para 29 de novembro e dar por resolvida a questão, mantido o status quo e intacto o regime.

O golpe de Estado de Honduras é um interessante e sintomático divisor de águas. Mostra quem está do lado de quem. O povo hondurenho vem resistindo dia após dia à repressão, aos toques de recolher, ao estado de sítio, às prisões, aos mortos e feridos, exigindo agora não só o retorno do presidente legítimo e por ele eleito mas também a convocação de uma assembleia constituinte. A Frente de Resistência estabeleceu essa meta como seu principal objetivo para elaborar uma carta magna que garanta a participação dos cidadãos e condições de equidade e justiça social, num país tão miseravelmente injusto.

Hoje o movimento social não tem suficiente força para mudar a correlação mas sua luta de resistência o coloca como um interlocutor inarredável. Os lados estão agora nítidos: de um lado os que querem manter o "status quo" dos interesses das oligarquias e das classes dominantes, inscrevendo- os nas cláusulas pétreas de suas constituições, dominando de todas as formas instituições, tribunais, parlament os e, não nos esqueçamos, meios de comunicação. De outro, a parcela pobre e majoritária da população, que não aceita mais ser oprimida e explorada. Este é um direito inalienável dos povos conferido não pelos textos legais e sim pela história de lutas da humanidade.

Esta é a questão central. Discutir à exaustão os dispositivos constitucionais, como vem sendo feito por eminentes juristas, só serve para justificar ou incriminar o golpe de Estado. Não vai ao âmago da questão: manter ou romper o regime atual, preservar os interessas das oligarquias ou ampliar os direitos do povo, permitir uma volta ao passado de golpes de Estado ou avançar na senda da democracia, do progresso e da justiça social.

O jornal O Estado de S. Paulo entendeu bem o problema central, sugerindo em editorial que a “única saída digna para o governo brasileiro ... é a concessão de asilo a Zelaya em território nacional”. O Wall Street Journal do magnata das comunicações Rupert Murdoch, foi mais longe: “A melhor solução para evitar a violência é os EUA insistirem firmemente para que ele, Zelaya, se entregue às autoridades hondurenhas, seja preso e julgado.”

Cumpridas essas exigências políticas, que no fundo são os pleitos das classes dominantes, estaria tudo resolvido, o golpe de Estado coonestado e servindo de exemplo, e o status quo mantido.

A verdade é que a heróica resistência do povo hondurenho, que não tinha um histórico de lutas e organização, faz surgir uma nova consciência. E dessa batalha emergirão novas lideranças capazes de conduzir o povo irmão por íngremes caminhos em direção a uma sociedade mais justa.



Max Altman

06 de outubro de 2009
Enviado por Dalva Oliveira da lista Apoiadores de Zé Dirceu

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