quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Uma Vez General Golpista, Sempre General Golpista








UMA VEZ GENERAL GOLPISTA, SEMPRE GENERAL GOLPISTA

Laerte Braga





Os cinco principais generais das forças armadas de Honduras resolveram dar explicações de público num programa de tevê hondurenho sobre a participação dos militares no golpe que depôs o presidente constitucional do país Manuel Ze laya.



Script montado, papéis definidos, o programa tinha o objetivo de exibir a “face democrática” dos militares golpistas e mostrar ao povo que não tinham nada a ver com nada, foram apenas “patriotas” em cumprimento à constituição e a lei.



Não houve dificuldades em decorar esse script, é antigo, mudam uma ou outra palavra, mas não conseguem escapar do lugar comum. O tal do “patriotismo” e a preocupação em aparecer como homens de origens humildes, mas capazes de “salvar a pátria”.



Se fosse para enumerar aqui os inúmeros de golpes de estado dados por militares na América Latina ficaríamos uma eternidade. Imagine se fosse para relatar cada golpe, cada momento “patriótico” desse na Bolívia, por exemplo. Era comum um general dar um golpe às seis da manhã, ser golpeado ao meio dia por outro, até que as seis da tarde um terceiro viesse com suas tropas para promover o bem geral e caísse à meia noite para um tipo general lobisomem governar até o que iria golpear às seis da manhã e assim sucessivamente.


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A grande preocupação dos militares hondurenhos foi a de tentar desvincular-se das elites do país. Buscar apagar a imagem que são cúmplices ou parceiros, sócios dessas elites nos “negócios”. Mas a maior dificuldade foi querer mostrar que não são paus mandados de Washington e obedecem diretamente ao embaixador dos EUA em Tegucigalpa.



Em 1964 no Brasil a coisa funcionou exatamente assim. Os norte-americanos começaram a abrir as portas para o golpe com um programa chamado Aliança para o Progresso. Chegava aqui um monte de coisas com outro monte de agentes da CIA. Doações para o bem do Brasil. Em 1962 derramaram dinheiro nas eleições através de um instituto que chamaram de IBAD – INSTITUTO BRASILEIRO DE AÇÃO DEMOCRÁTICA –. Em 1963 designaram um comandante para as forças armadas brasileiras, o general Vernon Walthers que havia sido comandante de Castello Branco na IIª Grande Guerra e falava português fluentemente e o embaixador Lincoln Gordon para ajustar os esquemas financeiros, comprar deputados e senadores, etc.



Em 1964 promoveram todo o processo golpista, uma peça montada e dirigida por Washington, em nome da democracia. Marcharam pelo país montados na fé de um povo iludido por usurpadores dessa fé – fé é uma questão de foro íntimo, mas espertalhões da fé não – e falo do padre Patrick Payton. O cardeal de Honduras, dono de grandes extensões de terra e outros “negócios” apóia o golpe em nome de Deus.



Reforma agrária, melhores condições para os trabalhadores da cidade, projetos habitacionais, democratização da comunicação, saúde, universidades públicas, esse esquema não interessava aos donos do país, patrões dos militares e principais acionistas das nossas elites, o esquema FIESP/DASLU.


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Um pequeno exemplo da vocação democrática dessas elites. O governador de São Paulo era Ademar de Barros. Pilantra sem qualquer escrúpulo. Ademar decidia abrir uma estrada digamos ligando o ponto A ao ponto B, uma cidade a outra. Aí, em parceria com as empreiteiras compravam as terras às margens da futura rodovia a preço de banana e depois ficavam senhores de grandes extensões de terra supervalorizadas pela estrada.



Nos tempos de John Wayne era a mesma coisa quando as ferrovias iam chegando ao Oeste e levando progresso.



Jango decidiu no dia 13 de março de 1964 que as terras às margens de rodovias, ferrovias, rios, lagos e açudes seriam desapropriadas na extensão de oito quilômetros para fins de reforma agrária. Aquele monte de terra que quando a gente viaja não vê nada aproveitado, digamos assim. Aí, Ademar de Barros, o banqueiro/trambiqueiro Magalhães Pinto, o alucinado Carlos Lacerda treparam nas tamancas e dispararam que “a democracia e as liberdades individuais estão ameaçadas, o povo brasileiro está debaixo da ameaça do comunismo internacional”.



Junte-se a isso a estatização do petróleo em todos os níveis (Lula está leiloando o pré-sal), dos serviços de energia elétrica e telefonia e medidas que contrariavam laboratórios internacionais como a compra de ácidoacetilsalicílico da China e não da Bayer – uma das financiadoras do golpe –. O da Bayer custava o triplo do preço, está no livro “O governo João Goulart” do professor Moniz Bandeira, mas a Bayer era legitima representante da democracia. Você tem que tomar a aspirina da Bayer mesmo que ela seja mais cara e lógico, para os caras lá de cima, os “patriotas”, tinha um extra que vinha custo para a turma cá embaixo.



Pronto. Derrubaram o presidente, tomaram o poder, suprimiram as liberdades e começaram o processo de venda e entrega do país, completado bem mais tarde por FHC, uma espécie de cabo Anselmo com patente mais alta, afinal foi presidente da República.



Prenderam opositores, cassaram, torturaram, seqüestraram, mataram, estupraram mulheres militantes e de famílias de opositores, tudo em nome da pátria. Censuraram a imprensa, sempre pela democracia.



Falavam em Brasil grande enquanto íamos ficando cada vez menor.



Em Honduras os generais golpistas não variaram no script. Segundo eles, cinco, as forças armadas cumpriram a lei, não são responsáveis pela determinação de depor o presidente Ze laya (não explicaram que a lei mandava se quisessem de fato tirá-lo por “ilegalidades” seguir o caminho de um processo natural de impedimento, foi na marra), lamentam que tenham tido que matar alguns opositores, mas a culpa foi deles por não aceitar essa “lei”, essa vocação “patriótica”, até aí tudo como manda o figurino golpista, até que...



No filme Doutor Fantástico de Stanley Kubrick, entre muitos personagens que mostram a boçalidade de militares de extrema direita – a maioria – nos EUA, há um cientista alemão que foi cooptado ao final da IIª Grande Guerra. No ápice do filme, o tal cientista aparece numa cadeira de rodas como conselheiro do presidente norte-americano e surge segurando com a mão esquerda a mão direita. Quando se distrai e se empolga na destruição da União Soviética, solta a esquerda a direita automaticamente levanta-se e proclama “herr Hitler”.



Os generais de Honduras vieram gravando as cenas da farsa até o momento que a mão direita escapou. Foi quando disseram que Ze laya estava levando o país para o “comunismo” representado por Hugo Chávez, “disfarçado de socialismo,” afastando-se da democracia.



Democracia para eles é Washington e a grana que chega por fora no final do mês. São generais golpistas, em qualquer lugar, em todos os tempos, aqui, lá, no Chile e, lógico, venais e corruptos.



Segundo o jornal NEW YORK TIMES, norte-americano a fala final foi assim:



“Como se seguisse um manual da Guerra Fria, o general Miguel Ángel García Padget disse que as forças armadas impediram os planos de Chávez de espalhar o socialismo pela região. "A América Central não era o objetivo desse comunismo disfarçado de democracia", ele disse. "Este socialismo, comunismo, chavismo, chame como quiser, visa o coração dos Estados Unidos."



“... Visa o coração dos Estados Unidos”. É a pátria verdadeira desse general golpista e corrupto, traidor. Não conseguiu segurar e teve que dedicar essa ode aos patrões, quem sabe na esperança de ganhar um extra.



Não são patriotas, são canalhas como afirma Samuel Johnson ao definir patriotismo como “último refúgio dos canalhas”. O povo de Honduras? Dan e-se o povo, vão continuar matando se necessário for para os dólares abençoados do capitalismo.


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E contando com a mídia, pronta a receber também propagandas extras. GLOBO, VEJA, as rádios que Chávez fechou por falarem mentiras e distribuiu concessões entre as comunidades para se fazerem ouvir.



No meio disso tudo Barak Obama. Um refinado ventríloquo dos verdadeiros donos da Casa Branca e do presidente dos EUA. Um garçom numa espécie de pub inglês nos EUA. A Casa Branca.






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O resultado do “patriotismo” dos generais que defendem o “coração dos Estados Unidos”




Segundo Roberto Michelletti, presidente de fancaria golpista de Honduras, Obama é “el negrito no conoce donde se queda Tegucigalpa”. O que Obama fez até hoje foi perguntar a marca de cerveja que Michelletti, ligado ao tráfico de drogas, prefere. E se o filé é ao ponto ou mal passado. A cozinheira é Hilary Clinton, que também serve de primeira dançarina desse can can democrático.

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