terça-feira, 4 de agosto de 2009

Uma realidade Latino Americana e o Brasil

UMA REALIDADE LATINO-AMERICANA E O BRASIL

Laerte Braga





Brasileiros, temos sido, historicamente, omissos na luta latino-americana por uma realidade diferente da imposta pelos Estados Unidos. O caso de Honduras é exemplar. A própria História do Brasil se apresenta distinta da História dos países de língua espanhola. O ufanismo de nossas dimensões continentais não nos permitiu perceber, ainda, que nossa realidade se encontra à nossa frente nos países latino-americanos, nunca em Washington.



Percebo com freqüência reações ao termo bolivarianismo, seguidas da pergunta “o que temos com Simon Bolívar?” Temos a pretensão de ser parte da Europa. África é apenas uma escala para vôos a Paris e uma ignorância sem tamanho sobre nossas raízes nacionais, as mesmas raízes dos povos irmãos da América Latina, e que não temos sido senão instrumento do capitalismo mais perverso que se possa imaginar, quando achamos que somos hoje os EUA de cinqüenta anos atrás e o destino nos reserva um papel relevante no mundo.



É exatamente como pensávamos na década de 50 do século passado. Que em 2000 seríamos o novo Estados Unidos.



O primeiro ponto é que nenhum país será um novo EUA pelo simples fato que a cada EUA que surgir o fim do planeta fica mais próximo. Leonardo Boff mostrou isso de forma incontestável num artigo magistral a semana passada. Seriam necessários cem planetas semelhantes ao nosso para que todos os países do mundo tivessem o mesmo nível de consumo que os norte-americanos.



Não vamos para a ALCA (embora as elites do país vizinho São Paulo estejam loucas para isso) para não virar um México, depósito de lixo dos EUA e do Canadá, mas não mergulhamos de corpo e alma no processo de transformação e unidade latino-americana porque afinal, são índios, são povos diferentes.



Somos penta-campeões mundiais, somos isso e aquilo, cada dia a Europa ser curva ao Brasil, como gostam de dizer colunistas sociais. Chegam em levas por aqui em busca de bundas de mulheres brasileiras vendidas a um custo baixo por agências de turismo européias e norte-americanas.



O brasileiro não percebe que é colonizado. Sub-EUA. E vai ser sempre assim.



Pensamos como eles, os norte-americanos, mas não vivemos como eles.



E não percebemos que temos sido o agente principal no processo de dominação da América Latina. De golpes de estado, de ditaduras brutais e violentas. Não conseguimos perceber que Obama é um boneco de propaganda e não um presidente. Um garçom e não um chefe de estado e governo.



O que foi o golpe de 1964? O presidente dos EUA Lyndon Johnson designou o general Vernon Walthers para comandar as forças armadas brasileiras, o embaixador Lincoln Gordon para gerenciar o esquema FIESP/DASLU para além das fronteiras de São Paulo, juntaram os latifundiários e se arvoraram em protetores da “democracia”.



Enquadraram generais, deputados, senadores, transformaram o País num imenso território ocupado pela ideologia McDonalds e num grande campo de concentração que mais à frente se juntou a outros nos países latino-americanos onde as ditaduras prosperaram, tudo no pomposo nome de Operação Condor.



Fomos apenas os policiais um pouco mais categorizados, mas não menos brutais que os generais chilenos, argentinos, uruguaios, etc.



O governo seguinte, o de Nixon, definiu esse tipo de situação com clareza – “para onde se inclinar o Brasil, se inclinará a América Latina” –.



Lula parece ser aquele sujeito que imagina correr cem metros e quando chega a setenta, percebe que está à frente, pára e começa a afirmar que bastam os setenta para provar que podemos chegar aos cem. Só que aí voltamos ao marco zero.



Mergulhamos em crises desnecessárias com o tal argumento da governabilidade, enfiando numa viola que deveria tocar afinada, músicos de péssima catadura como Sarney, Renan, Jereissati, Virgílio, Serra, Aécio e outros, todos ufanistas com as praias do “meu Brasil.”



Onde? Um condomínio fechado no estado do Rio de Janeiro, aquele que o governador está colocando muros para separar as favelas da “civilização,” proíbe a circulação de pessoas para chegar a uma determinada praia e aí, na prática, privatiza a praia. É em Parati.



Para o povão, seja classe média inclusive, haja REDE GLOBO, haja VEJA, acha infográfico na FOLHA DE SÃO PAULO, haja ventos monárquicos e escravagistas no ESTADO DE SÃO PAULO e toda mulher acredita que vira modelo e casa com Bradd Pitt, como todo homem acredita que na sua vida vai aparecer uma Madona.



Nesse caso lambuza o sanduíche todo de catchup. Marlene Dietrich dizia que catchup era “coisa de americano que come tudo com gosto de catchup, tudo tem o mesmo gosto”. Mas é importante o pacotinho. Aquele que muita gente enfia no bolso antes de sair, no pressuposto que está passando a perna na multinacional, sem saber que ela adora aquilo. Dali a comprar um vidro de litro é um passo.



Nessa presunção toda que somos o Brasil de milhões de quilômetros quadrados não somos nada. Pouco mais que um México, bem menos que um EUA e de costas voltadas para a História.



Se um bando de generais comprados (como os nossos), associados a uma elite podre (semelhante à nossa), dão um golpe de estado e assumem o controle de um país de dimensões territoriais pequenas como Honduras, tudo bem, é um golpe, mas fazer o que?



O problema é deles? Chávez é aquela figura caricata que a GLOBO mostra deliberadamente? Evo é um índio?



Vai fazer o que? Chamar os ossos do general Custer para enfrentar esse bando de Crazy Horse?



O general Heleno para proclamar a república da VALE?



Ouvir do fundo do túmulo a voz de um crápula lato senso, Fernando Henrique Cardoso falando em modernidade?



O conceito de democracia não precisa necessariamente significar o governo da maioria. A maioria não tem a menor idéia que exista vida fora da REDE GLOBO. E um mundo diferente da fantasia do JORNAL NACIONAL. Quando Bonner chama o telespectador padrão de Homer Simpson ele sabe que esse paspalho vai achar engraçado e aceitar conformado esse papel de idiota.



Já foi domado, dominado e está domesticado.



“Pensa como americano, mas não vive como americano.”



A luta bolivariana no sentido de se construir uma sociedade socialista, democrática e popular passa pelos movimentos de base. Passar por enfrentar as elites e passa por rejeitar esse modelo em todos os sentidos, perceber que, no máximo, no máximo, o institucional é um instrumento. E de pouca validade.



Toda essa parafernália que chamam de republicana é apenas a camisa de força dos donos, ou o chicote dos senhores de escravos.



Honduras é uma luta de todos os povos latino-americanos. Há que se esgotar todos os recursos possíveis de luta pacífica, mas não se pode descartar a hipótese de enfrentamento aberto dos generais boçais que ocupam o governo a mando das elites e nem de alijar essas elites da forma que for possível de qualquer capacidade de decisão.



Elites são podres, são apátridas e servem a um único dono.



Somos latino-americanos sim. Somos argentinos, chilenos, paraguaios, bolivianos, venezuelanos, hondurenhos, equatorianos. Somos inclusive peruanos e colombianos que enfrentam governos do narcotráfico. Somos nicaragüenses e somos salvadorenhos e hondurenhos.



E se assim não o entendermos breve não seremos um nada maior ainda. Um gigante imóvel e bobalhão dominado por elites desavergonhadas e fétidas.



O golpe em Honduras sinaliza, o primeiro sinal, que é hora de nos aprontarmos para lutas muito maiores, de maior envergadura. Daqui a pouco designam para cá um general como fizeram em 1964 e um embaixador para abrir portas da frente e dos fundos para toda a súcia que controla o Brasil.



E dizem que os irmãos da América Central são de “repúblicas bananas”. São não. Estão lutando, dando vidas pela liberdade. Cuba está aí de pé. Bananas somos nós.

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