quarta-feira, 5 de agosto de 2009

América Latina Passo-a-passo: os caminhos de Cucaracha




os caminhos da cucaracha 2:

AMÉRICA LATINA PASSO-A-PASSO

O que nos aproxima no espaço e no tempo?

Raul Longo



México - 1810 - Iniciam-se as lutas pela Independência, travadas entre colonialistas aristocratas pró El Rei de Espanha e colonialista liberais pró Napoleão de França. A independência é assinada em 1821 pelo vice-rei de Espanha e o general espanhol Agustín Iturbide que se proclama Imperador, sendo destronado em 1823 por António Lopez de Santa Anna.



As elites fundiárias elegem um primeiro presidente para o período 1824-1828, mas depois desse período disputam o poder em série de conflitos entre aristocratas e liberais. Santa Anna intervém nessas disputas assumindo o poder por 11 vezes (5 sob apoio dos liberais e 6 dos conservadores).



Aproveitando-se daquela disputa entre as elites mexicanas, em 1841 os Estados Unidos anexa a República do Texas, hoje os estados norte-americanos do Texas, Colorado, Kansas, Novo México, Oklahoma e Wyoming. Em 1848 incorporaram do México os atuais estados norte-americanos do Arizona, Califórnia, Utah e Nevada, tomando mais da metade do país latino-americano.



Apesar de terem enfrentado e derrotado o General Santa Anna na luta pela posse de alguns desses territórios, os Estados Unidos o restituem como ditador do México em 1853 para conter as disputas entre as elites fundiárias. Mais tarde os Estados Unidos auxiliaram na deposição de Santa Anna.



Assume Benito Juárez, com intensa guerra civil entre conservadores e liberais apoiados pelos Estados Unidos. Promulga-se uma constituição extinguindo os poderes da Igreja dentro do Estado, mas as guerras entre as elites leva o México à profunda dívida externa com a França que negocia com Espanha e Inglaterra a invasão da província litorânea de Veracruz, enquanto invade a cidade do México, onde Napoleão III empossa como Imperador do país ao austríaco Maximiliano de Habsburgo, executado por Juárez em 1867.



Juárez governou até sua morte em 1872 sendo sucedido por Sebástian Lerdo de Tejada que, em 1876, foi sucedido pelo tirano Porfírio Diaz que promoveu concentração de terras, privilegiou a especulação estrangeira e o trabalho escravo de camponeses e indígenas. Em seu governo, a maior parte do capital investido no México era francês, seguido do inglês, estadunidense, alemão e espanhol.



Em 1910, Francisco Madero, um intelectual de família abastada de origem portuguesa, lidera da prisão o início da Revolução Mexicana na qual participaram as forças populares campesinas do sul, comandada por Emiliano Zapata, e ao norte por Pancho Villa. Derrotam o exército de Porfírio Diaz.



Madero foi executado em 1913 pelo golpe de estado conspirado entre seu Ministro da Guerra: Victoriano Huerta, e Henry Lane Wilson, embaixador dos Estados Unidos no México.



Emiliano Zapata foi morto por ardil traiçoeiro do exército mexicano em 1919, mas antes, ainda aliado à Pancho Villa, lutou contra o golpista General Huerta, ao qual depuseram em 1914. Assume um dos aliados revolucionários: Venustiano Carranza que, traindo os compromissos com forças populares, não realiza as reformas prometidas aos camponeses. É combatido pelos antigos aliados num processo que culmina com a morte de Zapata e de Villa em 1923, através de apoio logístico e armamentista norte-americano.



Em uma de suas fugas, o exército guerrilheiro de Pancho Villa adentrou a pequena e fronteiriça cidade de Columbus, no Novo México, derrotando os 350 soldados do Forte Camp Furlong. Segundo estimativas estadunidenses, o "bando" de Villa compunha-se de 500 camponeses armados.



O presidente norte-americano Woodrow Wilson ordenou uma represália que mobilizou força expedicionária de 4.800 homens, penetrando 480 kms. no território de Chihuahua com caminhões, aviões e veículos de combate. Não encontraram Pancho, escondido em Sierra Madre, mas em 1916 massacraram a população de um pequeno povoado que se indispôs à passagem do exército norte-americano, no episódio que ficou conhecido como Affair Carrizal.



Apesar do apoio ao governo mexicano, quando protestou pela morte dos civis Wilson respondeu com a mobilização de 75 mil integrantes da Guarda Nacional norte-americana. Historiadores comentam que então apenas não se iniciou uma nova guerra Estados Unidos x México, pela eclosão da Primeira Guerra Mundial na Europa. Mas quando o exército norte-americano retornou ao país em 1917, o efetivo expedicionário somava aproximadamente 10.700 oficiais e soldados que jamais conseguiram localizar Pancho Villa e seu exército de camponeses. Villa só foi morto quando já não mais guerrilheiro, numa emboscada ao carro em que se dirigia à uma festa familiar, alvejado por 47 balas.



Mas a Revolução Mexicana, que muitos historiadores compreendem com uma das mais longas guerras-civis da história, só é considerada por muitos como finda de fato com a criação do Partido Revolucionário Institucional - PRI em 1929.



Em 1934 assume o 4º presidente mexicano eleito pelo PRI: Lázaro Cardenas, que estabeleceu as regras para que o partido viesse a governar com plenos poderes durante décadas. Por outro lado, Cardenas nacionalizou a produção petrolífera e energética, iniciou a reforma agrária, promoveu a educação e concedeu asilo aos exilados da Guerra Civil Espanhola. No entanto, seu sucessor, Manuel Ávila Camacho, como primeiro presidente da política de aparelho sob o domínio do PRI (que se manteve até o ano 2000), favoreceu o investimento estrangeiro, congelou salários, reprimiu grevistas e oposicionistas, revogou as reformas do antecessor do mesmo partido com emendas constitucionais protecionistas às elites fundiárias, confirmadas por todos os presidentes mexicanos que vieram desde então.



Desde a II Guerra Mundial o México passou por diversas crises econômicas e sérias convulsões sociais. Em 1968 a cidade de Tlatelolco abrigou a realização dos Jogos Olímpicos. A repressão a uma manifestação estudantil às vésperas da abertura dos jogos deixou o saldo de 300 mortos segundo algumas versões, embora se cogite em mais de 1.000 mortos entre a tarde e a noite de 2 de Outubro de 1968. Testemunhas afirmam ter presenciado os corpos sendo recolhidos em caminhões de lixo. O próprio Ministro do Interior, Luís Echeverría Alves (posteriormente presidente do México), que ordenou o massacre, reconheceu que os estudantes, trabalhadores, e todos os participantes da manifestação pacífica de protesto, estavam desarmados.



Em 2003 o Naticional Security Archive da George Washington University apurou através de documentos da CIA, do Pentágono, do Departamento de Estado, do FBI e da Casa Branca, o envolvimento dos Estados Unidos no Massacre de Tlatelolco, fornecendo ao governo mexicano armas, munições, material de comunicação, equipamentos para treinamento anti-motins e manifestações populares, além de relatórios de acompanhamento e monitoração de todas as atividades estudantis.



Em 2006 Echeverría foi acusado de genocídio, mas um mês depois, judicialmente considerado como prescrito por questões de tempo processual.



O PRI veio a bancarrota após falir o país com sua política de dependência econômica dos Estados Unidos, levando o país ao caos e a mais profunda recessão de sua história em Dezembro de 1984. Diversos países de governos igualmente subservientes foram afetados, como o Brasil que em razão da Crise Mexicana recorreu ao FMI aumentando substancialmente nossa dívida externa.


Por estupidez ou espúrio caráter entreguista e colonizado, sempre há quem compute os problemas dos países latino-americanos aos seus próprios povos, escondendo a origem desses problemas nas elites corruptas de origem européia e nos capitalistas corruptores do hemisfério norte, sobretudo dos Estados Unidos. Mas a história demonstra, passo a passo, que assim como o Brasil, o México também é Honduras no espaço e no tempo.


Enviado pelo autor: Raul Longo

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