UM CACHO DE “OBAMAS”
Laerte Braga
Uma das mais importantes conclusões a que se chega ao analisar o golpe militar de extrema-direita em Honduras é que o presidente dos Estados Unidos pode pouco ou não pode nada. Depende de quem ocupa a Casa Branca. Obama não pode nada. Hilary Clinton, secretária de Estado, pode um pouco. John McCain, candidato republicano derrotado por Obama pode tudo. Dick Chaney, líder sionista com estreitas ligações com Israel e ex-vice-presidente de George Bush continua com a batuta de maestro. Rege a orquestra golpista.
Um dos principais produtos de exportação de Honduras é a banana. Nessa crise pode ser o símbolo de Obama. Cachos de “obamas” estão sendo despejados em projetos golpistas que se estendem à Nicarágua e a Venezuela, num primeiro momento. Toda a política dos EUA é conduzida para agravar a crise hondurenha, provocar a guerra civil e surgir aí o pretexto para uma intervenção militar dos EUA, logo, a velha conversa de provocações e ameaças à democracia por parte do governo de Daniel Ortega – Nicarágua – e, outro golpe.
O chanceler brasileiro Celso Amorim, sem favor algum a principal figura do governo Lula, disse hoje na abertura de um encontro sobre a crise no Oriente Médio que o golpe dos generais e elites hondurenhas não se sustenta e nem existe perigo de uma onda de golpes na América Latina. Amorim não iria dizer o contrário mesmo sabendo que por trás da derrubada do presidente Manuel Zelaya existe sim um propósito de derrubar governos bolivarianos em toda essa parte do mundo.
Na Nicarágua a oposição já começa a criar condições para dificultar a ação do governo sandinista de Daniel Ortega e abrir as portas a um golpe de estado.
A porta-voz do presidente deposto de Honduras, Elizabeth Sierra, disse hoje a uma agência de notícias internacionais que o presidente Zelaya vai para as montanhas de seu país onde pretende comandar a resistência ao golpe. Zelaya insiste que a resistência será pacífica, a despeito de toda a sorte de provocações dos golpistas e militares norte-americanos baseados em Honduras.
Há uma crise humanitária em Honduras. Faltam alimentos, água, remédios, forças armadas e polícia agem com a costumeira boçalidade de “patriotas golpistas”, mas os negócios continuam prósperos. Uma das primeiras conseqüências da deposição de Zelaya foi o retorno das máfias de Miami – tráfico de drogas e de mulheres – a Honduras.
Golpistas sem exceção não têm escrúpulos. Nem têm idéia do que seja isso. É só lembrar de 1964 no Brasil, ou da deposição de Salvador Allende no Chile. Pior, da Operação Condor, junção de carniceiros fardados de “democratas” para restabelecer a tal “ordem” que só existe na cabeça deles, à medida que significa contas bancárias mais robustas.
Ou percebemos que Honduras é toda a América Latina, ou breve os “patriotas” brasileiros estarão marchando com “Deus e a família” nem que seja necessário destruir todos os valores do País. E assim na Argentina. No Chile. Na Bolívia. Na Venezuela.
O DEMocrata, antiga ARENA, depois PFL, entrou com ação de inconstitucionalidade contra o novo acordo do governo brasileiro com o governo do Paraguai sobre as tarifas cobradas pelo país vizinho da energia de Itaipu vendida ao Brasil. O DEM é o partido dos banqueiros, grandes empresários, latifundiários e braço do PSDB, partido de FHC, Serra e Aécio, os mentores do processo de privatização do Brasil.
São braços de qualquer golpe em qualquer circunstância e momento.
Na Argentina um chefe de polícia quer “depor” contra Kirchner. Cada dia aparece um “filho” do presidente paraguaio Fernando Lugo. A mídia “brasileira” braço de elites pútridas e fétidas encasteladas no esquema FIESP/DASLU vende o presidente da Venezuela Hugo Chávez como sendo a encarnação do mal.
Por trás de tudo isso só os “negócios”. Pouco importa que sejam os “cachos de obamas” dos empresários hondurenhos, a droga dos mafiosos cubanos de Miami – os que combatem Fidel – ou o governo dos narcotraficantes na Colômbia.
Importa que cinco bases militares dos EUA vão ser instaladas naquele país – Colômbia – para “garantir” a “democracia” nesse canto de mundo.
Quando um golpista assume a presidência de Honduras na forma que Michelletti assumiu e se refere ao presidente dos EUA como “el negrito no conoce donde se queda Tegucigalpa”, está dizendo que Obama e banana são a mesma coisa e o faz sabendo quem manda na maior potência do mundo.
Que bombas tenham sido disparadas contra manifestantes pela legalidade constitucional em Honduras a partir de ambulâncias, em flagrante violação aos princípios mínimos de direitos humanos e leis internacionais, isso não conta. A grande preocupação da Europa é com as meninas que o primeiro-ministro Sílvio Berlusconi quer enviar para ornar o parlamento da Comunidade Européia.
Que pessoas estejam sendo presas, arrastadas pelas ruas de cidades hondurenhas também não importa. Muito menos que mulheres estejam sendo estupradas por militares e policiais hondurenhos.
Fome, doenças, falta d’água, com certeza nos castelos das elites nada disso falta. Pelo contrário, são muitos os regalos por conta do golpe. Se atinge ao povo soa como lição por não aceitar os “desígnios divinos”, já que o cardeal de Honduras (grande proprietário de terras) apóia com entusiasmo o golpe militar. Como o fez aliás o cardeal venezuelano em 2002 quando tentaram derrubar Chávez.
Notícias sobre esses fatos? Onde? Na GLOBO? Em VEJA? Na FOLHA DE SÃO PAULO? No ESTADO DE SÃO PAULO? Esse ainda nem absorveu a lei áurea.
O governo da Espanha dá sinais de preocupação com uma nova modalidade de trabalho no mundo “real” do capitalismo diante da crise. “Trabalhos domésticos eróticos, com sexo ou sem sexo.” O país do rei Juan Carlo, que mata búfalos na Suíça a um custo de cinco mil dólares por cabeça em temporada de caça, assiste a pelo menos 5% da população de mulheres casadas da Espanha transformarem-se em prostitutas domésticas para fazer frente às dificuldades geradas pela crise. Trabalham nuas, ou com pouca roupa e “fazem sexo com os patrões”, tudo para manter funcionando a máquina da civilização ocidental.
O fato foi revelado pela BBC. Representa um faturamento de bilhões de euros por anos, algo em torno de cinqüenta bilhões.
É o momento em que o mundo globalizado e “livre” começa a funcionar a partir de seres transformados em robôs e domesticados aptos a qualquer situação. Nas elites a coisa tem mais glamour.
Com o fim da União Soviética norte-americanos imaginaram um mundo cheio de letreiros da Coca Cola, do McDonalds, todo aquele visual da Broadway e a era do deus mercado. Se De Gaulle quando concebeu o Mercado Comum Europeu percebeu também o fim da União Soviética em futuro breve ou não, de imediato excluiu a Grã Bretanha. Sabia dos riscos de uma colônia norte-americana num mundo de comunidades em torno do livre comércio.
O que o presidente Hugo Chávez da Venezuela foi capaz de compreender é simples. A América é latina se unir-se e latrina se ceder ao império norte-americano. É só olhar o México.
A ALCA trazia embutido esse propósito. Por trás do livre comércio uma espécie de Idade Média onde os castelos ficariam em Wall Street , Washington e com filiais tipo FIESP/DASLU. Militares, empresários e latifundiários em Honduras não diferem em nada dessa gente.
O que a ALBA – ALIANÇA BOLIVARIANA DAS AMÉRICAS – traz é a perspectiva de uma realidade diversa daquela vivida por mulheres espanholas ou por imigrantes mexicanos. Povos latino-americanos.
O que o golpe militar em Honduras significa é que norte-americanos decidiram por um freio às decisões populares na América Latina e impedir governos democraticamente eleitos que promovam essa integração.
Querem o petróleo, querem a água, querem impor suas parafernálias, querem o seu modo de vida mas...
...Como diz a antiga Canção do Subdesenvolvido, “o brasileiro não come como americano”.
Honduras é como se fosse um código de alerta daqueles comuns em filmes de Hollywood, onde o FBI e a CIA matam meio mundo em nome da “liberdade”.
É uma luta dos povos latino-americanos. Organizar, formar a resistência e marchar contra o golpe. Que são muitos golpes e estão presentes em cada um dos nossos países.
A vida não se resume a modelos vendidos em shoppings e nem a marcas estampadas para que todos vejam.
Ou somos humanos, ou somos gado. Está aí Sarney, estão aí senadores de todos os partidos envolvidos numa corrupção que é conseqüência do modelo. Quando ouço Artur Virgílio ou Tasso Jereissati exigirem moralidade sinto engulhos.
Não existe uma única alternativa como querem. Existe uma porta de saída para outra realidade. E essa caminhada começa pela resistência.
Lutar por Honduras é lutar pelo Brasil.
Obama é só uma farsa vendida em forma de esperança. No duro mesmo é uma banana dos muitos cachos dos donos do mundo. Um “cacho de obamas” é o presente de grego de que querem distribuir aos latino-americanos, assim como os portugueses, espanhóis e britânicos que colonizaram a América trocavam bugigangas por ouro.
Perceberam que podem também comprar a alma latino-americana. Não com um “cacho de obamas”, mas com um monte de redes GLOBO.
Uma grande mesa de sinuca e muitas de bolas que vão sendo encaçapadas lentamente. Num universo maior, mas também dentro de cada um de nós.
Chamam isso de mundo real. É preciso então lutar pelo “irreal”.
terça-feira, 28 de julho de 2009
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