segunda-feira, 19 de outubro de 2009

A Ambiguidade de Nercadante - Nota do Comitê Bolivariano de SP

A AMBIGUIDADE DE MERCADANTE SOBRE O GOLPE DE HONDURAS



Claro, Mercadante é contra o golpe de estado em Honduras, que derrubou
o presidente desse país, Manuel Zelaya. E defende bem a posição do
governo brasileiro por ter acolhido o mandatário deposto. Contudo,
Mercadante não faz isso sem mandar um simpático recado às forças
conservadoras, principalmente aos golpistas de mídia. Entende que,
para ficar bem com grandes jornais e redes de televisão – todos
comprometidos em atacar, diuturnamente, o processo revolucionário
venezuelano, colocando o chavismo como o eixo do mal da América Latina
– deve criticar Chávez e as consequências das políticas e projetos
que, em grande medida, ele lidera na América do Sul e no Caribe. O que
faz em seu artigo ‘Nem Continuísmo nem Golpismo’, publicado no jornal
‘O Estado de São Paulo’.



Vejamos estas suas afirmações em tal matéria: "Manuel Zelaya...
cometeu graves erros. A sua aproximação a Hugo Chávez e o consequente
ingresso de Honduras na Aliança Bolivariana para as Américas (ALBA),
motivado pela substancial ajuda financeira que o regime da Venezuela
lhe deu, fizeram-no tomar atitudes temerárias e inconsistentes”. “A
sua teimosia em implantar uma ‘quarta urna’ nas eleições hondurenhas,
na qual se votaria pela possibilidade de convocação de uma Assembléia
Constituinte, ameaçou a ordem constitucional de Honduras...” Nessa
conjuntura delicada, temos de ter o claro discernimento de rejeitar
tanto o populismo continuísta – que busca terceiros mandatos e nega a
separação e alternância de poder – quanto o golpismo, que afronta
todos os princípios democráticos. Entre essas duas mazelas políticas
da América Latina, devemos ficar, todos nós, do lado da democracia.”
Vê-se que para Mercadante a decisão democrática e soberana do povo
venezuelano de poder reeleger Chávez por mais de uma vez – buscando
dar o primeiro passo sob a liderança deste líder bolivariano para a
construção da democracia popular ou socialista – é uma “mazela
política”.



Pronto ! O artigo, com certeza, conseguiu agradar mais a setores
conservadores – e até mesmo a golpistas midiáticos, apoiadores tácitos
do golpe de Honduras – do que aos que condenam veementemente a
quartelada hondurenha. Vendo Chávez e a ALBA como males, reforça a
tese de pró-golpistas de que a Revolução Bolivariana, ou o chavismo,
contribuiu para o golpe de Honduras. Na realidade, ele vê dois réus na
crise hondurenha ou mesmo em outras que venham acontecer no
continente: Chávez e os golpistas, duas ameaças à democracia. Defende
o senador, em outras palavras, que não só se deve derrotar o golpismo,
mas também Chávez, ou o chavismo, contribuindo, assim, com a indústria
antichavista montada exatamente pelos novos golpistas da América
Latina, no lugar da indústria anticomunista do período da Guerra Fria.
O que Mercadante chama de populismo é precisamente o que as
oligarquias e golpistas em geral querem derrotar, porque o tal
"populismo" significa a defesa soberana das riquezas de um povo, rumo
a uma sociedade com o máximo de igualdade. O que significa a derrota
de interesses de impérios, insaciáveis, capazes de praticar
genocídios, principalmente na busca do controle de recursos
estratégicos, como o petróleo.



Nem mesmo a OEA achou que para condenar o golpe de Honduras teria que
atacar Chávez. Aquele órgão não viu nada condenável na atitude do
presidente Zelaya de aproximar-se de um governo eleito
democraticamente e de um organismo internacional (a ALBA).



É lamentável que um senador de um partido democrático, que em nenhum
momento criticou o direito de Zelaya ter boas relações com a ALBA e o
governo da Venezuela, faça esse jogo ambíguo.



Realmente, o golpista Micheletti disse que sua ação foi diretamente
contra Chávez e a ALBA, também achando que foi erro de Zelaya
aproximar-se de um organismo liderado pelo presidente da Venezuela.
Sabemos por que esse golpista acha isso, porém, gostaríamos de saber
por que Mercadante acha a mesma coisa.

Comitê Bolivariano de São Paulo, 18/10/2009

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