A VERDADE SOBRE HONDURAS
Publicada em:26/07/2009
Honduras continua na ordem do dia depois de mais de três semanas do golpe que derrubou o presidente constitucional Manuel Zelaya. A diplomacia estadunidense, através do porta-voz do Departamento de Estado, Phillip Crowley, abriu o jogo, ou seja, declarou numa coletiva que não considera “golpe de estado” o que aconteceu no país centro-americano.
Esses e outros pronunciamentos deixam mais clara as contradições entre o Presidente Barack Obama e os falcões ainda predominantes no Pentágono e mesmo no Departamento de Estado. Isto é, enquanto Obama condena a quebra constitucional, a representação diplomática estadunidense em Tegucigalpa e os assessores militares continuam atuantes e não se indispõem contra os usurpadores do poder. Parece até que o esquema Bush para a América Latina - via Oto Reich e outros do gênero - continua dando as cartas e, vale repetir, tentam armar contra Barack Obama.
Na área midiática, os colunistas de sempre repetem os argumentos golpistas segundo as quais Zelaya estava querendo se reeleger, o que não corresponde a realidade. O governo legítimo de Honduras faria uma consulta popular sobre a reforma constitucional, que foi impedida com o golpe de estado. Não estava em questão a reeleição, o que não significa necessariamente perpetuar-se no poder, pois o presidente que concorre a um novo mandato tem de ser submetido à vontade popular. Se o povo não quiser, elege outro pretendente.
Bem diferente do que fez o então presidente Fernando Henrique Cardoso, que conseguiu a reeleição sem consultar o povo, mas dobrando o Congresso pode-se imaginar como.
A TV Brasil lavrou um tento jornalístico por ser o único veiculo eletrônico brasileiro a mandar um repórter que cobriu a entrada simbólica de Zelaya em território hodurenho depois de passar a fronteira com a Nicarágua, área onde, segundo informações da resistência ao golpe, foram colocados franco atiradores em posições estratégicas para matar o presidente deposto caso ele volte a atravessar a fronteira. Em termos editoriais, no entanto, a mesma TV Brasil repetiu os argumentos sem sentido sobre o desejo de reeleição de Zelaya, igualando-se aos demais canais de televisão, entrando inclusive em choque com os pronunciamentos de Lula em defesa do mandato do presidente hondurenho e o retorno imediato ao país.
Já o governo Evo Morales deu mais uma resposta concreta ao esquema neoliberal que defende a privatização dos setores vitais da economia como receita para os males enfrentados por um país. É que a partir de 1 de agosto próximo o Estado boliviano passará a ter o controle do sistema de hidrocarbonetos, o que se refletirá na prática para os consumidores. Os bolivianos pagarão menos pelo consumo doméstico do gás. Quando o controle estava em mãos da empresa privada Emcogas, o preço cobrado era de 18,2 bolivianos e com a estatização o custo passará a ser de 8 bolivianos.
No mais, além do importante e histórico acordo firmado entre o Brasil e o Paraguai, no último sábado, 25 de julho, sobre a venda por Assunção do excedente de energia elétrica de Itaipu, o Presidente Lula que participava de uma reunião de cúpula do Mercosul recebeu uma carta aberta do Prêmio Nobel da Paz Alternativa, Martin Almada, pedindo ao governo brasileiro que o arquivo da Guerra da Tríplice Aliança (Brasil, Argentina e Uruguai contra o Paraguai) se converta em “memória do mundo” para saldar a grande dívida que o Brasil tem com o Paraguai no bicentenário da independência do país vizinho.
Na justificativa apresentada a Lula, Martin Almada assinala, entre outras coisas, que “depois de um genocídio planificado desde Londres queremos reconstruir a história do que aconteceu para transformar o presente e entregar aos que estão vindo um futuro digno de se viver”.
Almada defende a formação de uma Comissão de Verdade e Justiça sobre a guerra que denomina de “Tríplice Infâmia”, pois o “passado se supera com verdade e não com impunidade”. Segundo ainda o Prêmio Nobel da Paz Alternativo, “o Brasil não pode continuar ocultando seus crimes históricos cometidos contra o Paraguai”. E, finalmente, Almada propõe que o arquivo da Guerra do Paraguai em mãos do Brasil desde 1870 até hoje seja declarado pela Unesco como MEMÓRIA DO MUNDO, nos moldes dos arquivos da ocupação francesa da Ilha Maurício em 1997.
Naturalmente, a carta aberta foi praticamente ignorada pelos editores internacionais da mídia hegemônica.
O texto em questão poderia ser entregue ao deputado Aldo Rabelo, do PC do B, que em artigo recente defendeu a posição do império brasileiro na guerra do Paraguai. E, como diria o saudoso e sempre atual Stanislau Ponte Preta, comunista defendendo o império é o próprio samba do crioulo doido...
Em tempo: A Sociedade Interamericana de Imprensa, a SIP, que reúne os barões da mídia do continente americano, até agora não deu uma única palavra condenando as sucessivas violações à liberdade de imprensa que estão sendo cometidas pelos golpistas em Honduras. A SIP ignora, por exemplo, o assassinato por forças militares do jornalista hondurenho Gabriel Fino Noriega, da rádio Estelar, da mesma forma que a militarização de meios eletrônicos como o Canal 36, a Radio TV Maya e a rádio Globo, para não falar dos tiros de metralhadora desfechados contra a cabine de transmissão rádio Juticalpa em Olancho, e as ameaças de morte contra jornalistas, entre os quais o diretor do jornal El Libertador, Johnny J. Lagos Enríquez e o jornalista Luis Galdanes. Todos os fatos mencionados e muitos outros foram confirmados por uma missão da ONU que circulou em Honduras.
A SIP, onde volta e meia discursam representantes de O Globo, TV Globo, O Estado de S. Paulo, a Folha de S. Paulo e outros, prefere combater governos que não rezam pela cartilha do conservadorismo.
Mário Augusto Jakobskind, Direto da Redação.
domingo, 26 de julho de 2009
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